TRÊS ESPECIALISTAS MILITARES SOBRE A LOUCURA INSPIRADA NOS BRINQUEDOS GI JOE

Artigo original em https://melmagazine.com/en-us/story/gi-joe-toys-characters?fbclid=IwAR1vvnIARiZb07BY3C5EehphfRS5Jy9MY68OL6FxbGOWDaG3JigYbBH1KHU 

Onde achamos pertinente, colocamos observações adicionais. 

Mísseis em tudo. Aviões e helicópteros mais brilhantes do que os gráficos de skate dos anos 80. Sem bindagem. Mas os veículos GI Joe e Cobra são tão burros assim? (Sim.)

Foi o fim da Guerra Fria e uma rara década de paz (bem, para os padrões da América). No entanto, uma certa geração de adultos passou grande parte de sua infância na década de 1980 em uma guerra sem fim contra o terror, graças ao GI Joe, uma linha de brinquedos, uma série de desenhos animados e histórias em quadrinhos sobre uma quase elite, operações especiais e antiterrorismo força, ou ... alguma coisa. Eles nunca explicaram isso.

De qualquer forma, os Joes passaram o tempo todo lutando contra uma organização terrorista financiada de forma privada chamada Cobra que, pelo que parecia, devia ter o segundo maior exército permanente do mundo. Mas, apesar de seu poderio militar, era liderado por um vilão pastelão inepto chamado Comandante Cobra, que escondia o rosto e falava com um ceceio de cobra, e tinha um traficante de armas escocês sardônico que usava um capacete totalmente cromado como seu insolente segundo em comando . Sim, isso já parece loucura, mas milhões de crianças pensaram que era a coisa mais incrível de todos os tempos : uma força de combate eclética cheia de comandos, metralhadoras, ninjas, mergulhadores, marinheiros, pilotos - a lista continuava crescendo conforme a Hasbro precisava de novos brinquedos para vender todo ano.

Seus veículos, em particular, permanecem totalmente absurdos: cockpits abertos ficam a centímetros de distância de foguetes gigantes; mísseis estão em tudo; os motoristas dirigem os veículos caídos, por algum motivo; os veículos blindados têm cockpits de vidro; muitos vêm em tons extremamente não camuflados de amarelo neon e azul. O que, naturalmente, nos fez perguntar: o que os especialistas militares reais pensam dessas máquinas de guerra hilariantemente projetadas?

Vamos descobrir. Porque saber é metade da batalha , não é?

SOBRE SE É UMA PRÁTICA PADRÃO TER UMA CABINE ABERTA AO LADO DE UM ESCAPE DE MÍSSIL BALÍSTICO (OU UMA CABINE ABERTA)

 

Tom Schwallie, fundador da Tank and AFV News : Sempre há uma total falta de preocupação com a proteção da tripulação em GI Joe. Cabines abertas são apenas uma ideia ridícula porque seria o alvo. Na verdade, ele anula todo o propósito de um veículo blindado! É o equivalente àqueles desenhos de fantasia em que mulheres bárbaras andam por aí com um sutiã blindado e nada mais. Isso anula o propósito se você não estiver cobrindo todo o seu corpo! Mesmo com veículos blindados.

Sgt. Major Daniel Sebby da Guarda Estadual da Califórnia, ex-logístico de combate e atualmente curador-chefe do Departamento Militar da Califórnia: Isso [RPV] está errado em muitos níveis. Ele tem um operador exposto, radar de aquisição de alvo exposto e exposição ao escapamento. Você ficaria cozido se sentasse na cabine e disparasse um míssil. Além disso, não entendo como essa coisa se move, porque não vejo um motor!

 

Laerte Guimarães, palpiteiro militar: o escape dos gases dos propelentes tem alta dispersão e grans temperaturas, o que resultaria em graves queimaduras e morte. Tais sistemas de mísseis tem seus escapamentos sempre voltados para longe da tripulação ou, em casos outros, proteção suficiente para toda a tripulação de um veículo vetor de lançamento de mísseis. Inclusive, tais veículos precisão de cabines protegidas não somente para a tripulação, mas também para todo o equipamento de lançamento, rastreamento e controle de tais armas e, mesmo que o controle seja transferido a outro local remoto, ainda são necessário equipamentos de comunicação e rastreamento.

 

SOBRE A PRATICIDADE DE UM COCKPIT DE VIDRO EM UM TANQUE

Schwallie: Eles provavelmente fizeram avanços em vidro resistente ao impacto, mas nada ao limite de trabalhar em um veículo blindado. Eu passei muito tempo como uma criança tentando justificar na minha cabeça o tanque HISS. Ele tem capacidade zero de cruzar trincheiras, porque vai direto para dentro da trincheira. A outra coisa é que eles colocaram pequenos pontos para representar rebites - não rebitamos veículos blindados desde o início da Segunda Guerra Mundial. Se uma placa de armadura for atingida por um projétil com muita força, ele irá estourar as cabeças dos rebites e eles voarão pelo interior do veículo. Então está, tipo, 80 anos desatualizado.

Will, veterano da infantaria do Exército do Afeganistão e Iraque e blogueiro do Funker530 : Uma cabine de vidro seria extremamente prática em um tanque, contanto que seja o vidro balístico espesso que já é usado em muitos veículos blindados. Eu estava em um veículo da unidade Stryker e era incrivelmente difícil para nossos motoristas enxergarem à noite usando óculos de visão noturna através dos periscópios do veículo. Antes do final de minha viagem ao Iraque, nossos veículos estavam sendo modificados para ter um grande pára-brisa de vidro blindado colocado na escotilha do motorista. 

 

Laerte Guimarães, palpiteiro militar: O caso específico do HISS vai contra a regra máxima dos blindados quanto à altura: quanto mais alto, maior a silhueta do alvo. Assim o HISS é um alvo e tanto para qualquer armamento anti-blindado.  A capota de vidro, mesmos se fosse de enorme capacidade de proteção balística, seria muito espessa e pesada e, provavelmente, com uma sequencia de impactos diretos ficaria fragmentada e prejudicaria a visibilidade do piloto, mesmo que o mantivesse protegido. Mas é evidente que tal recurso foi aplicado para que as crianças pudessem ver o boneco na cabine e, mais importante, necessário ter um boneco na cabine, o que te obriga a comprar mais bonecos. 

SOBRE A EFICÁCIA DO ROSA NEON , AMARELO, LAVANDA OU MAGENTA COMO CORES DE VEÍCULOS

Sebby: A cor depende da missão. Obviamente, no deserto, íamos nos bronzear. Na floresta da Alemanha, usamos marrom, preto e verde. As operações noturnas seriam obviamente negras. O vermelho é um alvo muito bom. E aqueles logotipos vermelhos do Cobra? Poderia muito bem pintar um alvo nele! 

Laerte Guimarães, palpiteiro militar: Nos anos 80, o grande inimigo era a Unisão Soviética e os países que compunham o Pacto de Varsóvia, por isso um campo de batalha europeu. Dessa forma, grande parte do equipamento estadunidense era pintado de verde oliva acastanhado, o padrão de vimos no MOBAT, por exemplo. Nos anos 90, com a Guerra do Golfo, tudo ficou meio beje, cáqui, e assim por diante. Mas para chamar atençao das crianças se criaram os veículos coloridos, neon, e seu propósito militar se perde, criando grandes alvos. Afinal, quem ima gina um tanque urbano pintando de amarleo e vermelho na selva de asfalto? Grandes alvos, dos dois lados da contenda, mesmo com a camufalgem "pitonizada" para véiculso invisíveis ao radar. Uma máxima sobre o F-117 e o fato de ser pitnado de preto: era usado somente em missões noturnas por ser invisível ao radar e não olhos. 

 

NO NÚMERO DE MÍSSEIS QUE ESTÁ GERALMENTE SUPOSTO PARA ANEXAR A UM VEÍCULO

 

Sebby: Oh Deus, o que diabos é isso? Em primeiro lugar, o impulso desses foguetes verticais queimaria o veículo. Então você tem todos aqueles mísseis em uma plataforma giratória. O que você acha que vai acontecer quando você disparar um míssil, com o escapamento, para os mísseis atrás dele? O mesmo acontece com os foguetes amarelos na parte inferior. E aquele pequeno kart 6 × 6: completamente supérfluo para a missão. Montar um míssil no cano de uma arma tanque? Que idiotice. Eles tentaram fazer dessa coisa um tanque, um lançador de míssil balístico e algum tipo de transportador de equipamento. Muitas missões para um veículo. Sim, essa coisa está tão errada.

Schwallie: Com os sistemas antitanque [mísseis], você só tem um ou dois mísseis montados. Com a artilharia você pode ter quantos quiser, mas geralmente eles estão montados dentro de algum tipo de tubo ou algo assim. Eles não são apenas batidos em diferentes partes do veículo aleatoriamente. Em GI Joe, há muitos tipos de 'Vamos empilhar armas nele sem proteção e sem dispositivos de mira ou maneiras de alimentá-los com munição' e, obviamente, é apenas capturar a imaginação das crianças, mas ao mesmo tempo , é apenas colocar mísseis e armas aleatoriamente em tudo.

 

Laerte Guimarães, palpiteiro militar: mísseis são itens que, até o momento do disparo, precisam de proteção, inclusive por sua aviônica interna. Por isso são mantidos em invólucros. Quando se trata de véiculso navais ou anfíbios, mais ainda, para evitar que fiquem expostos à maresia ou umidade. Precisam de sistemos de mira e controle e, mais que isso, são armas que tem propóstio definido, existem poucos mísseis que podem atingir qualquer alvo, que são AA, AS, SA, TT e assim por diante. Mísseis não são armas coringa.

SOBRE SE O WINDSURF É UM VEÍCULO DE COMBATE EFICAZ

Sebby: Ok, isso é simplesmente idiota. Com um M16 conectado à vela, você só pode atirar em coisas que sua vela permitir. O vento está apontando para você. Se você já navegou à vela, o vento decide para onde você irá, não você. Torpedo? Mesma coisa! Em primeiro lugar, um torpedo tão pequeno é inútil: quando você chegar perto o suficiente para acertar qualquer coisa, eles vão jogá-lo para fora d'água. E ter uma camuflagem da floresta navegando no oceano é um alvo muito bom.

 

SE PILOTAR UM HELICÓPTERO COM A CABINE ABERTA É SEMPRE UMA BOA IDEIA

 

Sebby: Ótima visibilidade, mas proteção zero para o operador. Não vejo nenhum sistema de aquisição de alvos para o que deveriam ser mísseis sidewinder - vamos supor que sejam mísseis não guiados. Depois, há o impulso ao qual você está expondo o piloto, e não sei que diabos essa arma está no nariz. No lado positivo, ele tem um rotor traseiro protegido mais moderno.

Schwallie: Tive a sensação de que o FANG provavelmente foi inspirado por um filme de James Bond [ You Only Live Twice ]. Pelo menos parece plausível, mas tem um pequeno motor e provavelmente pode ser derrubado por um garoto com seu .22. Não pode ser muito rápido. E ele tem aquela grande bomba de gravidade, então ele tem que passar direto sobre o alvo - não é como se ele não fosse notado!

 

Laerte Guiamrães: Aqui cabe a ressalva de que, na realidade, o FANG não é um helicóptero e sim um girocóptero. Tais aeronaves nomramlente não decolam como um helicópero em sim e precisam de pistas, mesmo curtas, para impulso para girar as hélices. São veículos de baixa velocidade, leves, mas ágeis. No entanto, as ressalvas sobre o armamento procedem: somente o canhão frontal seria prático como arma direcional e as demais armas não sistemas de mira, exceto se tratarmos os mísseis como foguetes não guiados. Girocópteros não motores fortes o suficiente para sustentar o vôo de veículos blindados, poranto o nível de proteção vai de baixo para nulo para o conjunto, o que torna pouco prático como plataforma de combate, no máximo um veículo de reconhecimeno de curto alcance.  

SOBRE SE ALGUM DOS VEÍCULOS GI JOE PODERIA SER USADO DE FORMA VIÁVEL PARA QUALQUER COISA NA BATALHA

Schwallie: Não são veículos GI Joe que são plausíveis. O Mauler era de longe o melhor. Eles literalmente copiaram um projeto experimental de tanque leve dos EUA e não colocaram um monte de metralhadoras extras nele, e fizeram escotilhas onde a tripulação poderia entrar. Era exatamente o que eu queria quando criança - eu estava tipo, essa coisa faz sentido!

 

Além disso, o primeiro jato de combate GI Joe foi um F-14 - isso fazia sentido. E o helicóptero Dragonfly era como um velho Bell AH-1 Cobra, que estava um pouco desatualizado na época em que GI Joe foi lançado. O Cobra tinha o Rattler , que parecia um A10 Warthog. Esse era um dos meus brinquedos favoritos quando criança. Mas então eles surgiram com todas essas pequenas máquinas voadoras de um homem só. Eles são tão ruins.

 

Laerte Guimarães: OUtro veículos faziam sentinto, como o VAMP, e até mesmo o VAMP Mark II, o BLindado de Assalto, que seria uma inspiração em jipes munidos de misseis anti-tanque, embora este não apresentasse sistema de mira. O AWE Stryker ou Buggy Coss Tático era outro exemplo de veículo muito usado na vida real, e por isso um dos mais amados, embora sua arma seja irreal, substituída no mundo real por um míssie TOW ou similar. As motos não deixam se ser interessantes também. 

SOBRE A SOLIDEZ MILITAR DE TER SUA UNIDADE VESTIDA COM UMA CAMISA DE FUTEBOL / Roupa DE MERGULHO / TRAJE DE NINJA / ROUPA DE MARINHEIRO OUSADO / ARMADURA DE SAMURAI / CAMISA ALOHA / Traje DE ASTRONAUTA, ETC.

 Sebby: Isso me diz que há falta de disciplina. Há um motivo pelo qual usamos uniformes: em primeiro lugar, o reabastecimento é mais fácil. E dois, você não quer perder tempo tentando descobrir quem é quem. Então você tem um marinheiro com um papagaio no ombro: A primeira coisa que eu faria é atirar no papagaio, porque a última coisa que você quer é estar em uma missão de vigilância e alguns pássaros disparam. E por que um marinheiro está de azul se você está no deserto? Novamente, você pode muito bem pintar um alvo nele.

Schwallie: Para mim, o maior problema foi quando reuni todas as minhas figuras e tentei transformá-las em um pelotão e você percebeu que apenas metade delas tem uma arma decente. É como se eu tivesse um bombeiro: como isso me ajuda? Ou um cara que só posso usar no deserto - não vamos para o deserto, desculpe. Ou o cara da neve.

Tudo isso foi criado para fazer as crianças dizerem: "Parece legal". Porque se você realmente fizesse uma linha de brinquedos que se parecessem com caras do exército de verdade, todos eles pareceriam iguais. No primeiro set em 1982, todos eles pareciam iguais, então eles perceberam, temos que fazer cada cara parecer mais individualista. O que tenho certeza de que é ótimo do ponto de vista de marketing, mas eu não gostaria de ser o cara do regulamento / logística do GI Joe, tendo que lembrar: “Oh, esse cara carrega esse tipo de arma, então tenho que pedir essa munição; esse cara precisa de comida para seu papagaio e pólvora para sua pistola pirata. ”

Will: Isso acontece, embora talvez não na extensão do desenho animado. Olhe para as unidades de operações especiais: às vezes é estranho quando você encontra os caras de operações especulativas que tentam fingir que são desse tipo superprofundo, espiritual, Bodhi-from- Point Break, monge-guerreiro, quando a realidade é que o Os militares apenas permitiam que esses caras se expressassem abertamente e eles decidiram seguir com isso.

Laerte Guimarães: Seria o caos. Talvez não por usar tantos trajes diferentes pois, parece, isso é por conta de cada um e não por conta do empregador. Mas a não homogeneidade pode causar um problema grande de moral na tropa. Por exemplo, o simples fato de cortar o cabelo igual é o primeiro ato de destituição da individualidade e formação de unidade. Cada um de um jeito, não cria um senso de bloco que forças militares desejam. No entanto, isso é aceitável com Forças Especiais em missões de infiltração, onde essa característica é inerente à missão. Por outro lado, cada um ter uma arma diferente é um caos logístico e historicamente documentado: no fim da Segunda Guerra Mundial a Alemanha supre suas tropas com o STG-44, o primeiro fuzil de assalto, uma arma mais adaptada ao novo tipo de guerra e que poderia ter mudado o panorama do combate se tivesse entrado em serviço antes. E isso não aconteceu pois a arma usava o que hoje chamamos de cartucho intermediário, que era uma munição nova na época. A Alemanha tinha milhões e milhões de cartuchos 7,92mm para seus K98, não tinha como mudar a munição para a versão curta do STG-44, seria um pesadelo logístico. Para sorte dos Aliados a arma entrou em serviço tarde demais. Seria mais prático se os GI Joes, se não tivessem as mesmas armas, pelo menos usassem armas com um calibre padrão. Nesse ponto, os Cobras são mais organizados em logística pela homogeneidade de equipamento e uniformes.

SOBRE A EFICÁCIA DE GRITAR “YO JOE!” OU “COBRALALALALALA” QUANDO VOCÊ SE LANÇA DE FRENTE PARA O FOGO LASER INIMIGO

Schwallie: Na Guerra Civil, o grito rebelde era uma coisa legítima, mas isso foi quando eles ainda estavam fazendo coisas como ataques de baioneta, onde você meio que precisa ficar empolgado para isso. O fato é que o campo de batalha moderno é incrivelmente barulhento, e se você é algum tipo de unidade antiterrorista super dissimulada, provavelmente não quer ser ouvido. E “Yo Joe!”? Simplesmente não é um bom grito de guerra.

 

SOBRE A PRESUNÇÃO GERAL DE GI JOE

 

Will: A organização Cobra tinha tudo para dominar o mundo, mas foi repetidamente fracassada pelo próprio Comandante Cobra. O cara era um idiota completo e repetidamente demonstrava liderança ruim, resultando em perdas e baixas no campo de batalha. Se o Comandante Cobra tivesse se sentado em um papel simbólico e deixado seu fornecedor de armas, Destro, comandar o show como comandante das operações militares Cobra, eu acredito que os Joes estariam totalmente ferrados. 

Laerte: Hoje sabemos que o mais perto que o GI Joe chega de uma Força Especial real é a Delta Force, que une egressos de todas as unidades dos EUA, de acordo com a necessidade da missão. No entanto o perfil dos Delta é muito mais agressivo e frio do que os animados e alegres GI Joes.