Comandos em Ação – De onde veio isso?
Existem teorias sobre a origem do termo “Comandos em Ação” por aí. Umas interessantes, outras bem estranhas. Mas vamos tratar de história e falar dos caminhos que levaram à criação da marca que conhecemos e amamos.
Primeiro, o que significa um comando?
A palavra comando tem origem na língua portuguesa, e foi atribuída para unidades militares que atuaram na Índia como tropas especiais de elite que tinham um comando autônomo, ou seja, liberdade de atuação imediata em campo.
Só para lembrar, Portugal foi a primeira potência europeia a se instalar na Índia desde Alexandre, o Grande, e só deixou seus domínios na região em 1961, quando a Índia, como país unificado depois de sua independência dos britânicos em 1947, "requisitou" esses territórios de volta.
Depois, durante as Guerras dos Bôeres[i] (1880-81 e 1899-1902), surgiu o termo Kommando para designar tropas que atuavam em pequenos destacamentos, que se deslocavam normalmente a cavalo, e lançavam ataques rápidos contra as tropas britânicas na África do Sul.
Boer Kommando |
Depois, voltou a ser utilizado durante a Segunda Guerra Mundial pelos britânicos para denominar os seus Commandos e suas atuações contra os nazistas, com sua estreia na Noruega. Os alemães criaram suas próprias tropas de kommando para atuar nesse conflito, em geral, unidades especiais de paraquedistas, como a que resgatou Mussolini.
Comandos Brintânicos - Segunda Guerra |
Comando Britânicos - Segunda Guerra |
Sonder Kommando alemão, logo após o resgate de Mussolini |
Hoje se entende que ações de comandos e ações de forças especiais tem funções diferentes. Forças Especiais podem executar missões de comando: inserções em território inimigo com propósito estratégico ou tático, uma missão específica, como o SEALs ficaram famosos por executar, como a caçada a Bin Laden. No entanto, essas forças especiais atuam geralmente em missões mais longas e estratégicas, como as que os Boinas Verdes são treinados para executar, como ações de guerrilha, insurgência e contra insurgência, operações de vigilância, contraterrorismo e uma série de outras ações. Missões de comando são realizadas por unidades menores, no geral, um esquadrão, enquanto missões de forças especiais podem ter muitas unidades e preparo envolvidas, muito embora uma ação de comando específica possa utilizar uma unidade bem maior, como foi feito durante a Segunda Guerra pelos britânicos (algumas ações famosas contaram com centenas de combatentes).
Então entendemos que todas as forças especiais têm treinamento e capacidade para executar ações de comando, mas nem todas as ações de forças especiais são ações de comando.
Para mais informações sobre comandos, sugiro duas leituras: o título Comandos – Os Soldados Fantasmas, da Editora Renes e o livro A História Secreta das Forças Especiais, da Larousse Brasil.
Agora ao que nos interessa: os Comandos em Ação.
Quando o Falcon foi lançado pela Estrela no Brasil em 1977 já vinha com suas inscrições na caixa: Comandos em Ação – Falcon. Inclusive a primeira chamada televisiva já trazia o bordão “Comandos em Ação orgulhosamente apresenta... Falcon!”,
Pra quem não sabe, o nosso Falcon é o licenciamento local do GI Joe no formato chamado muscle body, muito inspirado no GI Joe Adventure Team que havia surgido no começo dos anos 70. A Hasbro licenciou o GI Joe para onde pôde pois estava muito mal na época, realmente em vias de ir pro vinagre. Os EUA estavam também vivenciando uma crise econômica que, hoje, sabemos ser parte da conta da Guerra do Vietnã, fora a Crise do Petróleo[ii]. Foi um período mundial muito conturbado economicamente. E a Estrela era a maior indústria de brinquedos da América Latina e parceira de licenciamento de longa data da Hasbro, já tendo licenciado vários jogos e brinquedos.
Mas a Estrela não achou que o nome GI Joe seria mercadológico no Brasil para vender o boneco. Queriam um nome forte, de impacto, e que pudesse ser assimilado facilmente pelo público. Talvez o fato de GI Joe ser uma marca registrada da Hasbro e ser reconhecida aqui como propriedade desde 1965, também tenha ajudado pois, afinal, usar a marca GI Joe com certeza aumentaria os custos em royalties. Só saberemos desses detalhes com exatidão se algum dos envolvidos nessas decisões nos contar. Não é segredo que o nome Falcon veio de inspiração do jogador Falcão, um dos maiores volantes da história da Seleção Brasileira de Futebol. Ele estreou na Seleção em fevereiro de 76. A marca Falcon recebeu a licença no Brasil em 23 de julho de 1976. A marca foi registrada quase um ano antes do lançamento do brinquedo.
Para quem não sabe, nenhum brinquedo chega no mercado com menos de 6 meses de planejamento, no geral, um ano. Às vezes mais. Depois da ideia tem plano de marketing, criação de protótipos, testes. Nenhum brinquedo é lançado sem uma bateria enorme de testes de segurança para garantir que nenhuma criança ou adulto vai se ferir ou sofrer qualquer dano por conta desse brinquedo. Quando isso é aferido, o brinquedo pode ter que ser reprojetado ou descartado. Daí se passa ao planejamento de produção. Grosso modo, é isso. Tem mais detalhes, mas não cabe se discutir isso aqui.
As normas de segurança para brinquedos atuais do Inmetro, a portaria 217 de 18/06/2020 podem ser conferidas em:
http://www.inmetro.gov.br/legislacao/detalhe.asp?seq_classe=1&seq_ato=2642
Olhando para os dois Falcons inaugurais, o Combate e o Ação Camuflada, fazia todo o sentido a associação com uma marca reconhecível com a Comandos em Ação. Ambos tinham uma puxada para o militar (lembrando, inclusive, que estávamos ainda sob governo militar) e as aventuras em cartela e caixa, além do jipe e do tanque, traziam esse fundo de ações de comando. A Estrela parou de usar o Comandos em Ação com o Falcon 80, mudando a identidade visual das caixas para os futuristas.
Mas, veja, a Estrela só registou em 76 a marca Falcon, não a marca Comandos em Ação.
De onde veio “Comandos em Ação”?
Nos anos 60 a Editora La Selva lançou uma publicação em quadrinhos intitulada Seleções Juvenis. Esse título apresentava diversas histórias em quadrinhos como o Pato Dizzy, Kid Colt, Gato Felix, Mazzaropi, Ataque e... Comandos em Ação.
A publicação era rotativa e com várias edições e foi distribuída durante todos os anos 60. Mas perceba o interessante: o nome da publicação era Seleções Juvenis, o que vinha depois, embora com maior destaque, era um subtítulo, com o nome dos personagens, alguns desses nomes registrados e licenciados e outros, adaptações.
As histórias publicadas em Comandos em Ação eram quadrinhos em preto e branco de histórias de guerra, recomendadas para maiores de 16 anos. Lendo as histórias nota-se uma arte e argumentos um pouco diferentes dos quadrinhos estadunidenses da mesma época e se percebe que são quadrinhos ingleses (os quadrinhos de guerra estadunidenses da época eram mais ufanistas em relação ao patriotismo ianque). As histórias são simples, com moralidade, mensagem e tudo mais, mas são sempre de unidades britânicas.
Procurando pelo licenciamento, a marca Comandos em Ação nunca foi registrada para publicação. Mas até aí, o mercado editorial funcionava com algumas regras próprias e, se o título não está sendo usado e não é registrado, está disponível. Parte de como esse mercado funcionava pode ser lido no livro O Império dos Gibis, da Editora Heróica, que conta a trajetória da Editora Abril e, assim, do mercado editorial brasileiro.
Dessa forma a Estrela pôde usar em sua propaganda o famoso “Comandos em Ação apresenta...”
A marca Comandos em Ação só tem seu registro em 10/04/1984, às vésperas do lançamento dos Comandos em Ação, o GI Joe The Real American Hero que foi lançado nos EUA em 1982. Mas os personagens, Arma Pesada, Bazuqueiro, Rádio Alerta, Cabeça-de-Ponte, Raio Laser e Invasor já estavam todos registrados em dezembro de 83. E a Estrela registrou como sua a marca Comandos em Ação em tudo que se podia na época: vestuário, cama, mesa, banho, papelão e acartonados, material escolar, publicações.
Qualquer coisa da época com o nome Comando em Ação precisava ser licenciada com a Estrela, inclusive as duas tentativas de ter os quadrinhos do GI Joe da Marvel publicadas aqui com o título de Comandos em Ação, pela Editora Globo entre 87 e 88 e pela Editora Abril entre 93 e 94.
Comandos em Ação - Editora Abril - Set de 87 |
Evidente que a Estrela fez isso por já se conhecer o sucesso da linha nos EUA e a grande variedade de produtos que tinham a marca GI Joe. E esse sucesso realmente foi duplicado aqui com os Comandos em Ação em diversos produtos. E isso ainda vale: a marca Comandos em Ação ainda pertence à Estrela Brinquedos.
Os logos relativos à Comandos em Ação são registrados também, assim como os do GI Joe.
Comandos em Ação fica associado aos bonecos menores, de 1:18, até voltar a ser usado com o Comandos em Ação – Clássicos Falcon em 1994 e depois com o outro lançamento de 2000, o Falcon Força de Ataque. E ficou em suspenso até seu retorno com relançamento do Falcon em 2017, com os 80 anos da Estrela.
Comandos em Ação - Clássicos Falcon - 1994-95 |
A cereja do bolo: a publicação Comandos em Ação da La Selva era licenciamento de uma revista britânica que começou a ser publicada em 1961, a Commando for Action and Adventrue, ou também conhecida como Commando war stories in picutres. A publicação à época contava histórias das duas grandes guerras e, posteriormente, outros conflitos. A revista é publicada até hoje e está na edição 5400.
Fontes:
INPI – www.gov.br/inpi/pt-br
Young, Peter. Comandos – Os Soldados Fantasmas. Editora Renes, 1975.
Denécé, Éric. A História Secreta das Forças Especiais. Larousse Brasil, 2009.
Souza, Manoel de. Muniz, Maurício. O Império dos Gibis. Editora Heroica, 2020.
Wikipedia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Roberto_Falc%C3%A3o
https://pt.wikipedia.org/wiki/1.%C2%BA_Batalh%C3%A3o_de_A%C3%A7%C3%B5es_de_Comandos
https://en.wikipedia.org/wiki/Commando_(comics)
[i] Os bôeres (português brasileiro) ou bóeres (português europeu) são os descendentes dos colonos calvinistas dos Países Baixos e também da Alemanha e da Dinamarca, bem como de huguenotes franceses, que se estabeleceram nos séculos XVII e XVIII na África do Sul cuja colonização disputaram com os britânicos. Desenvolveram uma língua própria, o africâner, derivado do neerlandês com influências limitadas de línguas indígenas nativas da África como o Bantu, o Xhosa e o Sesotho, do malaio e do alemão. Hoje vivem na África do Sul e na Namíbia, mas também no Botswana e na Suazilândia. Migrações menores de suecos, portugueses, gregos, norte-franceses, catalães, poloneses, escoceses, letões, estonianos e finlandeses também contribuíram para essa mistura étnica. As guerras dos bôeres (ou guerras dos bôers) foram dois confrontos armados na Cidade do Cabo (África do Sul) que opuseram os colonos de origem holandesa e francesa, os chamados bôeres, ao exército britânico, que pretendia se apoderar das minas de diamante e ouro recentemente encontradas naquele território. Em consequência das guerras, os bôeres ficaram sob o domínio britânico, com a promessa de autogoverno.
[ii] Em outubro de 1973, os países árabes exportadores proclamaram um embargo às nações aliadas de Israel na Guerra do Yom Kipur, conflito militar entre estados árabes liderados por Egito e Síria contra Israel.Em cinco meses de embargo, o preço do barril de petróleo subiu de três dólares para 12 dólares no mundo inteiro. O momento era de crescente consumo de petróleo nos países industrializados, o que garantiu que o embargo custasse muito aos embargados. Ao perceber a dependência dos países árabes, os países compradores de petróleo começaram a mudar suas políticas energéticas para evitar que algo da mesma dimensão ocorresse novamente.
As consequências foram sentidas fortemente no Ocidente. Podemos dizer que esse primeiro “choque do petróleo”, como também é chamado, mudou o Ocidente em relação à busca por formas alternativas de energia, que passaram a ser uma prioridade na gestão energética na maioria dos países.
Os Estados Unidos, por sua vez, não quiseram investir na pesquisa em energias renováveis. Em vez disso, a resposta foi incentivar maior exploração do petróleo em solo americano.
Enquanto isso, os motoristas enfrentavam longas filas nos postos de gasolina e ainda lidavam com ladrões. Uma greve dos caminhoneiros que durou dois dias levou a um tiroteio entre motoristas a favor e contra e até um ataque com bombas.
O Brasil implementou em 1975 um grande projeto tecnológico: o Proálcool, que misturava gasolina e etanol para maior rentabilidade do combustível.
A Índia Portuguesa
Os portugueses foram o primeiro povo europeu a instalar-se na Índia. Inicialmente, após a chegada de Vasco da Gama a Calecute em 1498, os portugueses pretendiam apenas estabelecer o seu domínio económico, tendo para isso criado diversas feitorias em Cochim, Cananor, Coulão, Cranganor, Tanor e Calecute. No entanto, sentindo a hostilidade por parte de vários reinos indianos e de outros potentados (o grão-sultão do Cairo, a República de Veneza, o sultão de Cambaia e o samorim de Calecute), que se aliaram para os expulsar da Índia, acabaram por oficializar o domínio português, fortificando as feitorias e criando um estado soberano (Goa, 1512).
Os territórios sob administração portuguesa (a que se juntaram Diu, em 1535, e Damão, em 1559) tomaram a designação de Estado Português da Índia. Do início do século XVI ao terceiro quartel do século XX, o Estado Português da Índia foi governado por 109 vice-reis e 128 governadores, tendo os primeiros sido Francisco de Almeida e Afonso de Albuquerque.
Durante a dinastia filipina, surgiram novos inimigos, fundamentalmente os holandeses e ingleses, que se empenharam em substituir os portugueses. Começou, desta forma, a decadência do domínio português no Oriente, visível logo na perda de Chale em 1603. Mesmo após a Restauração de 1640, o estado de decadência manteve-se, com os holandeses a ocuparem diversos territórios como Malaca, Ceilão, Coulão, Cranganor e Cochim. Além disso, Portugal cedeu Bombaim aos ingleses, como parte do dote da rainha D. Catarina de Bragança.
Durante o período em que os portugueses se estabeleceram na Índia, deu-se um fenómeno de aculturação, em que elementos da cultura europeia influenciaram (mas nunca chegaram a dominar) a cultura indiana e vice-versa. Além disso, os territórios dominados pelos portugueses tornaram-se importantes centros religiosos e culturais, tendo-se construído hospitais, igrejas (em Goa, por exemplo, restam ainda hoje a Igreja de Anjuna e a Igreja do Priorado do Rosário, iniciada em 1543) e conventos, criado escolas e fomentado as artes e as ciências, tanto geográficas como naturais.
Com a descolonização britânica da Índia e o aparecimento da União Indiana em 1947, o interesse do novo país em integrar os antigos rajados semi-independentes levou a um conflito com Portugal. Este recorreu ao Tribunal Internacional de Haia, que lhe deu completa satisfação por sentença arbitral de abril de 1960. Ignorando tal decisão, a União Indiana invadiu os territórios portugueses da Índia (Goa, Damão e Diu) em dezembro de 1961. Mais tarde, Portugal veio a reconhecer a soberania da Índia sobre esses territórios.
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