quarta-feira, 8 de setembro de 2021

GI Joe Origins - Snake Eyes


Finalmente assisti o tão esperado filme de origem do bom e velho Snake Eyes. Assisti de peito e mente abertos à abordagem de uma nova origem, destoante do cânone dos quadrinhos escritos pelo nosso amado autor Larry Hama, já que ele mesmo deu o aval ao filme e reconheceu que o Snake Eyes deveria ter sido asiático desde o início. 

O filme teve sua estreia nos EUA dia 23 de julho. Aqui no Brasil era pra ser no dia 19 de agosto. No entanto, a estreia nos cinemas daqui foi cancelada e só teremos acesso oficial ao filme por streaming ou DVD/Bluray em data ainda não revelada. Triste para os fãs, pois queríamos ir ao cinema, mesmo que fosse para sair reclamando. Tive acesso a uma versão original, não achei legendas em português nem dublado, por isso não posso imaginar como ficará com a adaptação. No primeiro filme de GI Joe muitos dos easter eggs se perdem na tradução.

Antes, vamos lembrar da origem do Snake Eyes dos quadrinhos, um pouco de sua história, direto das joepedias da vida...

No original, Snake Eyes é um veterano do Vietnã, onde conheceu  e serviu junto com Tommy Arashigage, que viria a ser o Storm Shadow, e Lonzo Wilkinson, o nosso Stalker. 



 Ao retornar do Vietnã, descobre que toda sua família morreu num acidente de automóvel à caminho do aeroporto, indo recebe-lo. Quem o recebe e dá a notícia é o então coronel Clayton Abernathy, o nosso Hawk. 

Sem ter para onde ir, sem família, sem rumo, decide aceitar o convite de seu amigo Tommy para conhecer o "negócio de família" dos Arashikage, no Japão, que descobre ser um clã ninja, onde é aceito e treina de forma excepcional, desenvolvendo uma habilidade natural para o ofício shinobi, o ninjutsu.


 Muito depois vamos descobrir que essa história se mistura com a origem do Comandante Cobra, já que o homem embriagado que matou a família de Snake Eyes no acidente (e morreu junto) era irmão do Comandante. Ele culpou a família de Snake Eyes pelo acidente e, seu casamento que já ia mal por ser um vendedor de carros medíocre, entre outras deficiências, acabou. Isso o levou a um momento de ruptura onde começou, depois, a fazer de tudo para enriquecer, desde pirâmides até fraudes maiores, usando as mazelas do sistema capitalista para, enfim, fundar a Organização Cobra. 

Inicialmente, para financiar um plano de vingança contra Snake Eyes, único sobrevivente da famílias "responsável' pela morte de seu irmão, que levou a contratação do Zartan para matar o Hard Master e causar o cisma no Clã Arashikage, levando a inimizade entre Storm Shadow e Snake Eyes a um nível mortal, sendo o primeiro acusado da morte do tio e o segundo jurado de leva-lo à justiça. Ou algo assim.

Anos depois, volta aos EUA e, à convite do agora General Hawk, integra a equipe inicial do GI Joe e durante um treinamento, num acidente de helicóptero, sofre ferimentos que o desfiguram e ferem sua garganta de forma a perder a capacidade de falar e ser obrigado a usar uma máscara.


 Ficamos anos sem saber como seria o rosto de Snake Eyes, seu nome, suas origens reais, sua etnia, nada. O homem era um mistério. Até que um dia tudo se revelou e descobrimos que era caucasiano. 

Depois disso, mais e mais detalhes foram sendo incorporados à mitologia, como o passar pelos testes para entrada no clã mostrados no DVD de Ninja Battles.

Depois tivemos origens alternativas, tanto nos quadrinhos, como nos filmes, onde ele entra parra o clã ainda menino, ou perde a fala por um ferimento de tantô infligido pelo Storm Shadow, outra a mudez é um voto de silêncio pela morte do Hard Master, o tio de Storm Shadow que comandava o clã. Cada autor, parece, tinha uma ideia diferente para a origem do personagem. Não foi diferente no filme.

Sobre o filme, vamos começar pelas partes ruins.

O filme começa praticamente como a origem do Wolverine. Infância triste... e partimos para uma luta ilegal. Yakuza. Clichê. Algumas sequencias que não são nenhum tipo e novidade, parece um filme chinês ou coreano, mas sem o mesmo, como dizer, charme. Não inova. E aquelas reclamações sobre cenas de ação e lutas tremidas, procedem. Pode ser que o diretor quisesse fazer parecer mais realista mas, no entanto, apenas prejudica o entendimento da ação e das lutas. 


 O personagem civil Snake Eyes interpretado por Henry Golding vive como um pária, à margem da sociedade, um fantasma. Por alguma razão até plausível, cria um laço de amizade e gratidão com Tomisaburo Arashikage, o Tommy do filme, interpretado por Andrew Koji e acaba, indo treinar para ser ninja. 


 Lá achamos uma Akiko, vivida por Haruka Abe, que nunca vimos na história de GI Joe e, antes do filme, achávamos que seria a Jinx. Não é. Jinx teria laços de sangue com o Clã. Pelo GI Joe Renegades, seria prima do Tommy. No filme é uma agregada. Então é um personagem novo. 


 O personagem do Soft Master, no fim, ficou como a avó do Storm Shadow, Sen, a matriarca do Clã, interpretada pot Eri Ishida.

Temos um Blind Master, icônico dos quadrinhos, interpretado pelo eterno Doctore de Spartacus, o ator Peter Mensah e um Hard Master bem mais jovem que o dos quadrinhos, que, originalmente, seria o tio do Storm Shadow. Este é vivido por Iko Uwais.

 

Temos uma trama meio estranha para apresentar uma já consolidada e conhecida Organização Cobra, e introduzir a Baronesa de Úrsula Corberó no filme e envolver os Cobras em tudo de ruim que acontece por todo canto do mundo, um povo do mal deveras ocupado com seu ofício. E a cola disso deveria ser o Kenta Takamura (Takehiro Hira), um membro renegado do Clã que virou Yakusa.


 


 

A introdução de Scarlett, interpretada por  Samara Weaving parece um improviso, uma desculpa, e ao mesmo tempo apresenta o Clã Arashikage como uma entidade de segurança em nível internacional e conhecida, o que é muito estranho para um Clã ninja que deveria ser secreto. Não colou.

 

Depois de apresentados todos os players e a trama vai se desenrolando, tudo se atropela, acontece rápido, o treinamento ninja que deveria durar anos não ocorre, surgem pedras mágicas, truques da mente Jedi e outras coisa que, se fosse no desenho, aceitaríamos, mas não em um live action. Nãos depois de ver algo tão bom quanto "GI Joe: Resolute", cuja história é muito mais adulta e coerente.. e é uma animação. Mas, realmente, é muita preguiça do roteirista usar a boa e velha pedra mágica que deve ser guardada pelo clã. Aí temos uma tentativa de mostrar o pensamento honrado japonês de possuir uma super arma e não usar pois seu uso seria desastroso em mãos erradas e o desejo de poder corrompe, etc. Mas Yamato faz isso melhor com o canhão de ondas que só deve ser usado como proteção e nçao uma arma de conquista. Pedra mágica... uma espada lendária que devora almas seria mais interessante.


Temos um Snake Eyes egoísta, com agenda própria. Até aí tudo bem, faz parte dos arquétipos de origem de herói aprender lições, mas tudo parece forçado, o roteiro corre demais, passa por cima de si mesmo. Parece que o diretor e o roteirista fizeram uma colcha d retalhes de clichês de outros filmes, inclusive chineses, para termos até cobras gigantes como em filmes de fantasia.


 E me desculpem o spoiler, mas já ter uma aliança entre mocinhos e bandidos nesse filme para enfrentar um inimigo comum achei desnecessário. Podia ser. Mas não creio que deve-se ser agora.  


Faltou a gota da verdade para que a dádiva do sucesso se apresentasse nesse filme.

As coisas boas!

A atuação do Henry Golding está ótima, então a culpa do filme não é dele. O personagem ainda é um estadunidense em sua essência, mesmo que nipoamericano, como o próprio Storm Shadow deixa claro em um diálogo. 

O filme traz a explicação do nome Snake Eyes para o mundo fora dos EUA, que nada mais é que a mão perdedora nos dados, o duplo um, os olhos de cobra, o menor resultado que, na cultura local, se tornou uma expressão que significa um evento ruim, falta de sorte, azar. 


 Há um diálogo no inglês original, não sei como ficará na dublagem, que brinca com o significado de Storm Shadow, "Tempestade de Sombras" ou "Tempestade Sombria", que, por sinal, é a tradução de Arashikage. 


Andrew Koji, Há uma brincadeira escondida no castelo Arashikage, um mural de corvos, uma revoada deles, como uma tempestade. Corvos são sombrios, e um símbolo positivo no Japão, são mensageiros mitológicos que ajudaram o primeiro imperador a unir o Japão por ordem da deusa Amaterasu. 

 

A Baronesa aparece relativamente pouco, mas cumpre seu papel de nobre, de aliciadora. Só se sente muita falta do sotaque de leste europeu que era tão proeminente no desenho animado original (o que não foi usado na nossa dublagem).

O uso das cores para marcar os personagens está no nível dos quadrinhos, com cada personagem dentro de sua paleta, isso ajuda a identificar alguns deles nas cenas de luta de tremidas. 

  Conclusão

É um filme de ação bem mediano, com pouco realmente calçado na mitologia do GI Joe além dos nomes dos personagens e algum eco nas personalidades criadas pelo Larry Hama para os quadrinhos. A modernização era necessária, pois, assim como o Homem-de-Ferro foi criando em uma caverna no Vietnã e depois transposto para uma caverna no Afeganistão, com 40 anos separando cada guerra, seria necessário fazer isso com Snake Eyes, ou ele seria um veterano de pelo menos 68 anos ou mais. Mas não fizeram isso. Ele não tem e não aprendeu disciplina militar nessa linha de origem, nas teve treinamento adequado, é um lutador de rua, e não tem sofisticação técnica fora, claro, que é meio difícil criar um senso de honra e dever com a vida de de origem que ele tem nessa história. Estaria mais perto dos malandros de rua que tem que fazer coisas terríveis para sobreviver.

Poderia ser melhor. Um roteiro melhor. Uma direção melhor. Ser asiático ou não, não faz a menor diferença. 

Mas tem a ponta do Larry Hama...


Título Original: G.I. Joe Origins: Snake Eyes

Origem:  EUA/2021

Diretor: Robert Schwentke

Duração: 121 minutos

Elenco: Henry Golding, Andrew Koji, Haruka Abe, Takehiro HIra, Eri Ishida, Iko Uwais, Peter Mensah, Úrsula Corberó, Samara Weaving,









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