domingo, 19 de setembro de 2021

Granadeiro

Figura icônica da coleção Comandos em Ação, na quarta wave lançada no Brasil pela Estrela em 1987,  o Granadeiro, a versão nacional do Grunt V2, foi uma das figuras, na época, menos interessantes. Hoje, é interessante porque lá fora o Grunt V2 era o piloto da Asa Delta. Aqui a Estrela lançou a Asa Delta Camufalda com o Falcon e, por isso, o piloto da asa delta é vendido caro e o Granadeiro cartelado, também.

 

Grunt V2 lado a lado com o Granadeiro "Stopim". As diferenças ficam na variação de cor no pigmento dos plásticos, sendo o nacional com a pele mais rosada e o cáqui do uniforme levemente mais escuro, assim como os bolsos nos braços são mais escuros na versão da Estrela.

Além dessas diferenças entre o nacional e o estadunidense, temos duas versões do Grandeiro: uma com o braço do Grunt e outra com o braço do Ripcord, o nosso Batedor Anti-Fogo. Ambas as versões vinham com a mesma arma, a metralhadora de visual híbrido entre M-60 e MG-42, que acompanhava o Rock'N Roll, nosso Arma Pesada - Gladion.




O filecard desenvolvido pela Estrela não tinha critérios técnicos específicos para a função, apenas uma descirção de personalidade do personagem e sua preferência pelas granadas.

 


Mas de onde vem o nome "Granadeiro"? 

Bom, eu estava lendo uma das minhas página de Facebook preferidas, a Nomes Científicos, que é sobre, claro, nomes científicos. E lá me deparei com a origem das palavras "romã" e "granada". Segue esse trecho abaixo retirado de lá:

Romã, em espanhol e galego, é ‘granada’; em alemão, ‘granatapfel’; francês, ‘grenade’; inglês, ‘pomegranate’; polonês, ‘granat’; russo, ‘гранат’ (‘granat’); sueco, ‘granatäpple’, italiano, ‘melograno’ e ‘granata’. Eita! Tudo tem grana no nome!
Nós falamos grana para nos referirmos a dinheiro por um empréstimo (rá!) do italiano. ‘Grana’ era uma gíria italiana que veio com os imigrantes. No contexto agrícola, quem é dono de muitos grãos, como os de trigo, está cheio de ‘grana’. O termo vem do latim ‘grana’, plural de ‘granum’ (grão).
Essa letra ‘n’, que sumiu na passagem do latim para o português, foi mantido nas palavras derivadas de ‘granum’. Pode reparar. O chocolate em pequeno grãos é o granulado. A venda de grãos sem embalagem é à granel. Aquela organela celular com pequenos “grãos” aderidos (ribossomos) é o retículo endoplasmático granular. A rocha com textura de grãos é o granito. O animal que se alimenta de grãos é granívoro. O alimento matinal com grãos açucarados é a granola. A chuva de pequenos grãos de gelo é o granizo. (Se bem que aqui em Minas, vi muita gente falar que “tá chovendo granito”. Que perigo!)
Em latim, algo com muitos grãos era dito ‘granosus’ ou ‘granatus’. Sendo essa a principal característica da romã, a fruta era conhecida na Antiguidade por ‘malum granatum’ (maçã granosa) e ‘pomum granatum’ (pomo granoso).
Que a romã era cheia de grãos, ninguém duvidava. O enrosco foi determinar de qual lugar ela era originária e esse impasse apareceu no nome dela. Para alguns, a romã veio de Cartago, no Norte da África. Por isso, chamavam-na de ‘malus punica’ (maçã púnica, maçã cartaginesa). Foi aí que Lineu, em 1753, batizou a espécie como ‹Punica granatus›.
Outros achavam que a romã vinha da cidade de Granada, na Espanha, pois lá, de fato, havia muitas romãzeiras. Por isso, um dos nomes comuns da planta é romeira-de-granada. O interessante é o próprio nome da cidade espanhola pode ter surgido da fruta, como ‘la tierra de las granadas’.
Para os portugueses, no entanto, a origem da romã seria de (tcharã!) Roma. Em latim, a fruta também era conhecida por ‘mala romana’ (maçã romana). O mesmo hábito de transformar a letra ‘n’ em tio (~) na grafia e na pronúncia, que fez ‘grano’ virar ‘grão’, acabou fazendo ‘romana’ passar a ‘romãa’ e depois ‘romã’.
Os povos deixaram a ‘maçã’ de lado e ficaram só com a segunda parte do nome . Portugal preservou romã e os demais países ficaram com palavras parecidas com granada.
Na França, onde era ‘pomme grenate’ em francês arcaico, o resultado final foi ‘grenade’. E lá, no final do século XV, com o uso cada vez maior da pólvora, surgiram pequenas bombas com o formato de romã. Eram bolas de ferro com uma abertura para o estopim, bem parecido com esta , que vemos nos desenhos animados. Quando explodiam atiravam violentamente estilhaços de metal para todo lado. Pelo formato e pelo arremesso dos “grãos”, ficou com o nome de ‘grenade’.
Os soldados lançadores de granada, os granadeiros, eram a elite dos exércitos do século XVII. Como as granadas eram bem pesadas, que demandavam arremessadores fortes, no século XVIII, falar que um homem era um granadeiro (ou até mulher, granadeira) era um baita elogio. Significava que era alguém alto e corpulento.
Com a melhoria das outras armas de fogo, as granadas caíram em desuso e só voltaram à moda, já remodeladas, a partir da Primeira Guerra Mundial.
Cabe lembrar de pedras precisas chamadas de granadas também. 
 
Foto: Sarah Illemberger, 2021.
 A pedra granada tem em sua composição os elementos alumínio, cálcio, cromo, ferro 2+, ferro 3+, magnésio, manganês e titânio. Pode ser encontrada na África do sul, Austrália, Áustria, Brasil, Sri Lanka, Suécia, Tchecoslováquia e alguns outros países. 
Esse cristal é conhecido desde os primórdios, pois, segundo religiosos, a Arca de Noé teria sido iluminada por uma pedra granada e só por isso, teria sido capaz de se salvar. Também tem-se relatos de sua utilização por diversas civilizações há milhares de anos, principalmente pela fama de gerar vidas que as suas vibrações e energias possuíam.
Já a origem do nome “granada” veio do latim “granatus” e lembra juntamente os granulos da romã, e em algumas tradições “a pedra que ilumina”. 
 
Mas para nós, o importa, são as bombas, as granadas que explodem, as granadas de mão.  Granada surgiu na China Medieval, durante o século IX, durante a dinastia Ming, era feita de cebola seca, e enchida com pólvora, usava-se para destruir muros, fortificações, portões, defensas, etc.
 
Posteriormente, evoluem para invólucros de ferro com o característico estopim, como as bombas de desenho animado, que precisavam ser acendidas e arremessadas. Essa função de arremessador, quando a arma chega à Europa, faz destacar os soldados com maior compleição física para a tarefa de bombardear os inimigos com granadas. 

Assim surge a categoria dos granadeiros

Um granadeiro era, inicialmente, um soldado especializado no lançamento das tais granada e essa especialidade foi estabelecida em meados do século XVII, tendo como funções específicas o lançamento de granadas de mão e, ocasionalmente, as operações de assalto, com alguma evolução de funções com o passar do tempo. No início do século XVIII, o lançamento de granadas de mão já não era relevante, pelo avanço das armas de pederneira  de melhor precisão, mas continuavam a existir granadeiros, como soldados de assalto de elite que, por fim, se tornaram as tropas que lideravam o assalto da infantaria durante as batalhas campais. Foi a época em que o tamanho do soldado deixou de importar para ser um granadeiro e passaram a busca experiência de combate e disposição como soldado, ajudando a consolidar a imagem de tropa de elite.

Seja pelo seu aspeto, seja pela sua reputação, os granadeiros tenderam a transformar-se nas tropas de apresentação dos respetivos exércitos, sendo destacados para missões de grande visibilidade, com privilégios superiores aos das outras tropas. Por exemplo, as companhias de granadeiros eram normalmente dispensadas de funções rotineiras, como a faxina e as patrulhas, mas eram encarregues da guarda dos quartéis-generais. Quando um regimento formava em linha, a companhia de granadeiros ocupava sempre o flanco direito, considerado a posição mais honrosa.

Nas operações de sítio, também era frequente serem os granadeiros a liderar o assalto às brechas feitas nas muralhas, juntamente com os sapadores, os soldados responsáveis por cavar fossos, trincheiras e galerias subterrâneas, que hoje chamados de engenheiros. Então sapadores e granadeiros se complementam: um abre o caminho e o outro avança por esse caminho. Isso levou a que unidade de granadeiros tivessem internamente uma unidade de sapadores.
Granadeiros franceses de 1805

Os granadeiros faziam quase sempre parte da infantaria. No entanto, durante o século XIX, a França, a Argentina e o Chile criaram unidades de granadeiros a cavalo, de cavalaria pesada, cujos soldados também eram escolhidos pelo seu tamanho e capacidade.
Com os avanços em artilharia, as grandas de mão foram perdendo uso durante os séculso XVIII e XIX e só retornam, reformuladas, a partir da Primeira Guerra Mundial - para lá da designação honorífica mantida por certas unidades - ressurgiu a função militar de granadeiro, responsável pelo lançamento de granadas à mão ou através de lança-granadas, quando a batalha de trincheiras, muitas vezes tão próximas quanto um arremesso de granada, pareciam uma arma útil.

Posteriormente, vemos na Segunda Guerra mundial, as unidades de Granadeiros Panzer, os Panzergrenadier, as unidades de infantaria de elite que acompanhavam as unidades Panzer. É uma regra da guerra de tanques que estes não devem avançar sem cobertura de infantaria, o treinamento alemão fazia dessas tropas, soldados da melhor qualidade. Unidades de granadeiros panzer tinham infantaria, infantaria pesada, grupamento antiaéreo, engenharia, reconhecimento e antitanque.




Na verdade, nada mais eram do que a infantaria mecanizada alemã para acompanhar o avanço das unidades panzer.

Algumas imagens de grandas se tornaram icônicas, como a pineapple ("abacaxi") estadunidenser e a smasher potato ("amassador de batata") alemã. 



Hoje os unidades de infantaria contam com  granadeiros, mas na verdade, soldados que portam lançadores de granadas, já que as grandas em si sao parte do armamento de todo o grupo. 

Temos hoje diversos tipos de granadas: antipessoal (fragmentação), altoexplosivo, fumígenas, iluminativas, incendiárias. E tanto podem ser de arremesso com algumas especializadas que podem ser disparadas de fuzil as chamadas granadas de fuzil ou granadas de bocal.



 
Fontes: 
Página do Facebook Nomes Científicos 
"Diccionario da lingua portuguesa’ de Raphael Bluteau e reformado por Antonio de Moraes Silva (1789)  
‘A história da granada de mão’, de Mary Bellis (2019).
https://blog.shopdoscristais.com.br/pedra-granada/ 
Foto: Sarah Illemberger, 2021.
 https://pt.wikipedia.org/wiki/Sapador
https://pt.wikipedia.org/wiki/Granada_de_m%C3%A3o
 

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